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quinta-feira, 14 de julho de 2011

pOEMA: MEGO (Elis)

MEGO
A vida nega o “é”
e assume o “seja”,
É inevitável.
Antes, a expectativa.
E será “o inesperado” e...
assim como a lua,é mistério. Um belo mistério.
Uma saudade
Um lamento
Um desejo
Um esperar
A esperar um amor
Um desistir.
Um engano
Uma certeza
Frios
Calores
Acalantos.
A vida...
Ah! Que loucura
Maravilha!
Seres
Encontros Dez
Desencontros
Energia
Simpatia
Negação
É você
O não-eu
É você
Os nós
Sem nós
Alegria
Magia
Sinestesia
Laços
Pele
Olhares
Respiração
Sentidos
Sentimentos
Olhar juntos
Encontros
Almas.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

tEMPO ( eLIS)

Tempo...
A máscara.
O tempo é a crueldade?
O envelhecer ...
A dor
A perda
A distância
A falta?
A experiência
A sapiência
O eternizar
O aprender
O perdoar
O futurar:
A arte de amar o que poderá ser.
Perto e longe.
Longe e perto
O contrário do ontem.
O esperado
O acabado
O efêmero
O sempre temido.
Não há como seguir adiante
sem olhar para trás e para o que virá.

pOEMA: Diagnóstico (Elis)

Antes pelo olhar,
Ou pelo sentir,
Pelo toque,
Depois pela arte.
Pela trama da vida,
Pelas circunstâncias da vida.
Pelo segredo,
Pelo revelar,
Ao falar,
Ao ser,
Ao existir.
Um amor que não é do cotidiano,
Mas que não é abstrato.
Uma eternidade em minutos.
A força do tempo e das palavras
Que fantástica, a amizade.
Que inusitado, o amor.
Um amor capaz de fazer amor.
Sem medos.
Sem cobranças.
Sem reservas.
Sem vocábulos difíceis
Sem deixar esquecer-se.

RETROCESSO

Retrocesso
O visitante estranhou porque, quando o levaram para conhecer a sala de aula do futuro, não havia uma professora-robô, mas duas. A única diferença entre as duas era que uma era feita totalmente de plástico e fibra de vidro — fora, claro, a tela do seu visor e seus componentes eletrônicos —, e a outra era acolchoada. Uma falava com as crianças com sua voz metálica e mostrava figuras, números e cenas coloridas no seu visor, e a outra ficava quieta num canto. Uma comandava a sala, tinha resposta para tudo e centralizava toda a atenção dos alunos, que pareciam conviver muito bem com a sua presença dinâmica, a outra dava a impressão de estar esquecida ali, como uma experiência errada.

O visitante acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador tivesse substituído o professor. O entendimento entre a máquina e as crianças era perfeito. A máquina falava com clareza e estava programada de acordo com métodos pedagógicos cientificamente testados durante anos. Quando não entendiam qualquer coisa as crianças sabiam exatamente que botões apertar para que a professora-robô repetisse a lição ou, em rápidos segundos, a reformulasse, para melhor compreensão. (As crianças do futuro já nascerão sabendo que botões apertar.)

— Fantástico! — comentou o visitante.

— Não é? — concordou o técnico, sorrindo com satisfação.

Foi quando uma das crianças, errando o botão, prendeu o dedo no teclado da professora-robô. Nada grave. O teclado tinha sido cientificamente preparado para não oferecer qualquer risco aos dedos infantis. Mesmo assim, doeu, e a criança começou a chorar. Ao captar o som do choro nos seus sensores, a professora-robô desligou-se automaticamente. Exatamente ao mesmo tempo, o outro robô acendeu-se automaticamente. Dirigiu-se para a criança que chorava e a pegou no colo com os braços de imitação, embalando-a no seu colo acolchoado e dizendo palavras de carinho e conforto numa voz parecida com a do outro robô, só que bem menos metálica. Passada a crise, a criança, consolada e restabelecida, foi colocada no chão e retomou seu lugar entre as outras. A segunda professora-robô voltou para o seu canto e se desligou enquanto a primeira voltou à vida e à aula.

— Fantástico! — repetiu o visitante.

— Não é? — concordou o técnico, ainda mais satisfeito.
— Mas me diga uma coisa... — começou a dizer o visitante.
— Sim?
— Se entendi bem, o segundo robô só existe para fazer a parte mais, digamos, maternal do trabalho pedagógico, enquanto o primeiro faz a parte técnica.
— Exatamente.
— Não seria mais prático — sugeriu o visitante — reunir as duas funções num mesmo robô?
Imediatamente o visitante viu que tinha dito uma bobagem. O técnico sorriu com condescendência.
— Isso — explicou — seria um retrocesso.
— Por quê?
— Estaríamos de volta ao ser humano.
E o técnico sacudiu a cabeça, desanimado. Decididamente, o visitante não entendia de futuro.

Luís Fernando Veríssimo. In Nova Escola. São Paulo. Abril, out. 1990. p. 19.